Está já perto do fim a contagem decrescente para a inauguração da nova igreja da Santíssima Trindade, em Fátima, que terá lugar no próximo dia 12 de Outubro, na presença do Cardeal Tarcisio Bertone, Secretário de Estado do Vaticano e enviado especial de Bento XVI para a cerimónia.
Pó, barulho e muitas obras em andamento ainda marcam a vida no edifício, mas os responsáveis asseguram que tudo estará a postos já no dia 9 de Outubro, data em que o edifício será entregue oficialmente ao Santuário de Fátima.
O espaço promete deslumbrar os peregrinos do país e de todo o mundo, muito por força do aproveitamento da luz natural, que vai mudando ao longo do dia, proporcionando "um ambiente suave, calmo, propício à concentração", como fez questão de sublinhar o próprio arquitecto Alexandros Tombazis.
As preocupações com o espaço litúrgico passam pela centralidade do altar, a facilidade na deslocação no interior da igreja e, também, com os aspectos acústicos. O despojamento da igreja é "compensado" pelas obras de arte encomendadas a artistas internacionais, com destaque para o painel de 500 metros quadrados, atrás do altar, em ouro e terracota.A obra é da autoria do Pe. Ivan Rupnik, croata famoso pelo seu trabalho na capela Redemptoris Mater, no Palácio Apostólico do Vaticano. Com uma equipa de 20 artistas de 8 países conseguiu, em menos de um mês, dar vida a um espaço de luz, sem sombras, que entra em forte contraste com a grande e pesada cruz que se eleva sobre o altar.A nova igreja da Santíssima Trindade tem forma circular, com 125 metros de diâmetro, e é sustentada por dois grandes pilares, que suportam toda a cobertura e evitam colunas no interior do templo. O projecto, desenhado pelo arquitecto greco-ortodoxo, combina a luz e a tecnologia, procurando respeitar a atmosfera de Fátima.
Com um volume de quase 130 000 metros cúbicos e uma altura média de 15 metros (a altura exterior ultrapassa levemente a actual colunata, permanecendo a torre da Basílica como o elemento dominante), a nova igreja de Fátima tem uma nave central de 8800 lugares sentados, configurada para duas capacidades diferentes: um primeiro espaço para 3500 pessoas, separado por um biombo, poder ser completamente aberto em caso de necessidade. No altar será colocada uma pedra retirada do túmulo de S.Pedro, oferecida pelo Vaticano.
O interior da igreja é iluminado pelo tecto, através de janelas viradas para Norte (sheds), dando prioridade à luz natural. Será possível mudar a iluminação, em diferentes lugares e com diferentes intensidades, com a ajuda de um sistema computorizado. Simbolicamente, a orientação dos sheds lança o olhar em direcção à Basílica já existente.
O custo total da maior obra de construção civil deste tipo realizada em Portugal (só na primeira fase da construção foram utilizados mais de cinco quilómetros de estacas, sete mil toneladas de aço, 50 mil metros cúbicos de betão cinzento e mais de sete mil metros cúbicos de betão branco) deverá atingir os 70 milhões de euros, uma verba superior em 24 milhões ao orçamento inicial, mas justificada por trabalhos a mais, alguns erros e actualização de preços. Além das cerimónias religiosas, há espaços polivalentes que podem ser também utilizados para acolher grandes eventos que decorram em Fátima.
Os espaços exteriores são pavimentados com calçada portuguesa (cerca de 22 mil metros quadrados), sendo possível encontrar uma referência a textos bíblicos em 23 línguas sobre a unidade e a trindade de Deus, logo junto à porta central.
O edifício terá 13 portas: 12 laterais dedicadas aos Apóstolos, em bronze, e a porta central, de 64 metros quadrados (divididos por três espaços), que terá "efeitos artísticos" sobre Deus e a Santíssima Trindade. 20 elementos laterais fazem referência aos Mistérios do Rosário.
O espaço contará com estátuas dos Papas Pio XII, Paulo VI e além de D. José Alves Correia da Silva (primeiro Bispo depois da restauração da Diocese).
João Paulo II vai ter um lugar de destaque, com uma estátua junto à Cruz Alta e uma frase do Papa polaco a ficarem perto da entrada principal. As palavras inscritas são de uma oração à Santíssima Trindade, que o próprio fez na Capelinha das Aparições, ao iniciar a sua peregrinação de 1982.
Espaços de intimidade
A chamada "zona da reconciliação", junto à entrada do lado sul, é um local privilegiado para a confissão sacramental e a reflexão. Uma rampa assegura o acesso alternativo às escadas. Como curiosidade, a mesma não é paralela, criando uma sensação de "proximidade para quem entra e afastamento para quem sai" do espaço, como explicou Alexandros Tombazis.O complexo inclui 3 capelas da Reconciliação, que servirão também para outras celebrações. A "zona da reconciliação" é composta por uma área para peregrinos portugueses, com salão-capela de 600 lugares sentados e 32 gabinetes/confessionários, e outra área para peregrinos estrangeiros, com 2 capelas de 120 lugares cada e 32 gabinetes/confessionários.O átrio dos Apóstolos Pedro e Paulo, com um corredor de 150 metros, serve para a preparação das pessoas que desejam confessar-se. Terá painéis assinado por Siza Vieira, actualmente em fase de elaboração. A meio deste corredor encontram-se dois lagos, espelhos de água, um alusivo ao Baptismo (água a cair) e outro à Criação (água a jorrar). Entre estes dois espelhos há uma ligação de acesso ao espaço de convívio que adoptará o nome de Santo Agostinho.
Um espaço será reservado para o Lausperenne (Adoração Eucarística), que assim deixa a capela junto à colunata sul.
No conjunto, estamos perante um espaço que apresenta vários elementos do nosso quotidiano, em especial no que se refere aos materiais utilizados, à preocupação ecológica e a uma certa noção de conforto que se procura transmitir (não por acaso se ouviu um comentário, entre os visitantes, de que este seria "um T8 jeitoso"), mas que consegue cativar pela limpidez e a simplicidade com que se propõe ao seu visitante/utilizador.A aceitação da nova igreja junto dos fiéis pode, contudo, ser uma questão bem delicada, apesar do optimismo manifestado pelos responsáveis do Santuário. Habituados a uma concepção de "igreja" que reproduz modelos do passado, os peregrinos poderão demorar a habituar-se a este olhar sobre o futuro da arquitectura religiosa que é lançado em Fátima.
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