sexta-feira, 31 de agosto de 2007

UMA BREVE HISTÓRIA DO ROSÁRIO DA VIRGEM MARIA


1- O Nascimento do Rosário


O Rosário é uma oração cuja origem se perde nos tempos. A tradição diz que foi revelado a S. Domingos de Gusmão (1170-1221), numa aparição de Nossa Senhora, quando ele se preparava para enfrentar a heresia albigense.
Parece não haver muitas dúvidas de que o Rosário nasceu para resolver um problema importante dos novos frades mendicantes. De facto, os franciscanos e dominicanos estavam a introduzir um novo tipo de ordem religiosa no século XII, em alternativa aos antigos monges, sobretudo Beneditinos e Agostinhos. Estes, nos seus mosteiros, rezavam todos os dias os 150 salmos do Saltério. Mas os mendicantes não o podiam fazer, não só por causa da sua pobreza e estilo de vida, mas também porque em grande parte eram analfabetos.
Assim nasceu, nos dominicanos, o Rosário, o “saltério de Nossa Senhora”, a “Bíblia dos pobres”, com 150 Avé-Marias. Um pouco mais tarde, em 1422, pelas mesmas razões, os franciscanos criaram a Coroa Seráfica, uma oração muito parecida, mas com estrutura ligeiramente diferente (tem sete mistérios, em honra das sete alegrias da Virgem, os mistérios Gozosos, trocando a Apresentação no Templo pela Adoração dos Magos e os dois últimos Gloriosos, acrescentando mais duas Avé-Marias em honra dos 72 anos da vida de Nossa Senhora na Terra).
Mas é preciso dizer que, nessa altura, não havia ainda a Avé-Maria. Já desde o século IV se usava a saudação do arcanjo S. Gabriel (Lc 1, 28) como forma de oração, mas só no século VII ela aparece na liturgia da festa da Anunciação como antífona do Ofertório. No século XII, precisamente com o Rosário, juntam-se as duas saudações a Maria, a de S. Gabriel e a de S. Isabel (Lc 1, 42), tornando-se uma forma habitual de rezar. Em 1262 o Papa Urbano IV (papa de 1261-1264) acrescenta-lhes a palavra “Jesus” no fim, criando assim a primeira parte da nossa Avé-Maria.
Só no século XV se acrescenta a segunda parte de súplica, tirada de uma antífona medieval. Esta fórmula, que é a actual, torna-se oficial com o Papa Pio V (1566-1572). Grande reformador no espírito do concílio de Trento (1545-1563), S. Pio V é o responsável pela publicação do Catecismo, Missal e Breviário Romanos surgidos do Concílio, que renovam toda a vida a Igreja. Foi precisamente no Breviário Romano, em 1568, que aparece pela primeira vez na oração oficial da Igreja a Avé-Maria.


2- A Batalha de Lepanto e a festa de Nossa Senhora do Rosário


O contributo de S. Pio V, um antigo dominicano, para a história do Rosário não se fica por aqui. O grande reformador criou também o último grande momento da antiga Cristandade, a unidade dos reinos cristãos à volta do Papa. Os turcos otomanos, depois do cerco e queda de Constantinopla em 1453, o fim oficial da Idade Média, e das conquistas de Suleiman, o Magnífico (1494-1566, sultão desde 1520), estavam às portas da Europa. Dividida nas terríveis guerras entre católicos e protestantes, a velha Europa não estava em condições de resistir. O perigo era enorme.
Além de apelar às nações católicas para defender a Cristandade, o Papa estabeleceu que o Santo Rosário fosse rezado por todos os cristãos, pedindo a ajuda da Mãe de Deus, nessa hora decisiva. Em resposta, houve um intenso movimento de oração por toda a Europa. Finalmente, a 7 de Outubro de 1571 a frota ocidental, comandada por D. João de Áustria (1545-1578), teve uma retumbante vitória na batalha naval de Lepanto, ao largo da Grécia. Conta-se que nesse mesmo dia, a meio de uma reunião com os cardeais, o Papa levantou-se, abriu a janela e disse “Interrompamos o nosso trabalho; a nossa grande tarefa neste momento é a de agradecer a Deus pela vitória que ele acabou de dar ao exército cristão”.
A ameaça fora vencida. Este foi o último grande feito da Cristandade. Mas o Papa sabia bem quem tinha ganho a batalha. Para louvar a Vitoriosa, ele instituiu a festa litúrgica de acção de graças a Nossa Senhora das Vitórias no primeiro domingo de Outubro. Hoje ainda se celebra essa festa, com o nome de Nossa Senhora do Rosário, no memorável dia de 7 de Outubro.


3 - O Rosário até João Paulo II


A partir de então, o Rosário aparece em múltiplos momentos da vida da Igreja. Já no fresco do Juízo Final, pintado por Miguel Ângelo (1475-1564) na Capela Sistina do Vaticano de 1536 a 1541, estão representadas duas almas a serem puxada para o céu por um Terço. São as almas de um africano e de um asiático, mostrando a universalidade missionária da oração.
A 12 de Outubro de 1717, foi retirada do rio Paraíba uma imagem de Nossa Senhora com um Terço ao pescoço por três humildes pescadores, Domingos Martins Garcia, João Alves e Felipe Pedroso, em Guaratinguetá, São Paulo. Essa estátua, de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, foi declarada em 1929 Rainha e Padroeira do Brasil.
A Imaculada Conceição rezou o Terço com Bernadette Soubirous (1844-1879) nas aparições de Lourdes em 1858. O Papa Leão XIII, “Papa do Rosário”, como lhe chama a recente Carta Apostólica do Papa (n.º 8) dedicou mais de 20 documentos só ao estudo desta oração, incluindo 11 encíclicas.
Também o Beato Bártolo Longo (1841-1926) é um os grandes divulgadores do Rosário, como o refere a recente Carta Apostólica (n.º 8, 15, 16, 36, 43). Antigo ateu, espírita e sacerdote satânico, depois da sua conversão viu na intercessão de Nossa Senhora a sua única hipótese de salvação. Sendo advogado, em 1872 deslocou-se à região de Pompeia por motivos profissionais e ficou chocado com a pobreza, ignorância, superstição e imoralidade dos habitantes dos pântanos. Entregou-se a eles para o resto da vida. Arranjou um quadro da Senhora do Rosário, que fez vários milagres e criou em 1873 a festa anual do Rosário, com música, corridas, fogo de artifício. Construiu uma igreja para essa imagem, que se veio a tornar no Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia. Fundou uma congregação de freiras dominicanas para educar os órfãos da cidade, escreveu livros sobre o Rosário e divulgou a devoção dos «Quinze Sábados» de meditação dos mistérios.
Outro grande momento da divulgação do Terço é, sem dúvida, Fátima. “Rezar o Terço todos os dias” é a única coisa que a Senhora referiu em todas as suas seis aparições. A frase repete-se sucessivamente, quase como uma ladainha, manifestando bem a sua urgência e importância. Na carta do Dr. Carlos de Azevedo Mendes, num dos primeiros documentos escritos sobre Fátima, afirma-se “Como te disse examinei ou antes interroguei os três em separado. Todos dizem o mesmo sem a mais pequena alteração. A base principal que de tudo, o que me dizem, deduzi é «que a aparição quer que se espalhe a devoção do Terço»”
A história do Rosário não pode terminar sem referir um momento decisivo desta evolução. A escolha do Papa João Paulo II de celebrar as suas bodas de prata pontifícias com o Rosário, acrescentando-lhe os cinco mistérios luminosos, é um marco importante na devoção. Mas a ligação do Papa a esta oração não é de hoje, como ele mesmo diz na Carta: “Vinte e quatro anos atrás, no dia 29 de Outubro de 1978, apenas duas semanas depois da minha eleição para a Sé de Pedro, quase numa confidência, assim me exprimia: «O Rosário é a minha oração predilecta. Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade.»


João César das Neves Professor UCP

O QUE FOI E É O MOVIMENTO DA MENSAGEM DE FÁTIMA...



1. Já longe vai o ano de 1926 quando o cónego Dr. Manuel Formigão criou a “Associação de Nossa Senhora do Rosário” cuja finalidade era ajudar os seus membros a “conhecer, viver e difundir a Mensagem de Fátima”. Passados dois anos o Senhor Bispo de Leiria transformou-a na Confraria de Nossa Senhora do Rosário de Fátima” aprovando os seus Estatutos. A 20 de Abril de 1934, o Episcopado português reunido em Assembleia-Geral no Santuário de Fátima, aprova os primeiros Estatutos que transformam esta Confraria na “Pia União dos Cruzados de Fátima” como obra auxiliar da Acção Católica Portuguesa. O jornal “Voz da Fátima” era o seu órgão oficial.



2. Um período de longo trabalho, reflexão e diálogo precedeu a renovação dos Estatutos da Pia União. Foram apresentados à Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa que os aprova a 5 de Julho de 1984, alterando a sua denominação para “Movimento dos Cruzados de Fátima”.



3. Oração, Peregrinos e Doentes são Campos de Pastoral que o Movimento assume ao procurar entender os pedidos de Nossa Senhora em Fátima e as manifestações dos primeiros peregrinos que acorriam à Cova da Iria. Proposta a “todos os membros do Povo de Deus” cria no seu seio um Sector Jovem, um dos “ramos mais fecundos da renovação ambicionada” e estimula experiências no “Sector dos Mais Novos”.



4. A organização de grupos paroquiais, então chamados “trezenas”, que proporcionem aos seus membros um crescimento humano e espiritual, a estruturação a nível paroquial, diocesano e nacional traduzem o novo conceito “Movimento”. Plena inserção das estruturas paroquiais do Movimento na pastoral da Paróquia e das suas estruturas diocesanas na pastoral da Diocese, colaboração activa com outros Movimentos, em estreita ligação com a hierarquia, manifestam o seu sentido eclesial.



5. Já nada era como antes. Não obstante dificuldades várias, como a falta em alguns locais de estruturas paroquiais ou diocesanas coerentes com as necessidades da Igreja actual, sentia-se vida. Vida como aquela que só o Espírito dá em tudo o que toca. Lançamento de actividades com vista à intensificação da oração (terço, primeiros sábados, adoração eucarística, etc.), peregrinações cada vez mais vividas, apoio aos peregrinos a pé, apoio à organização de Retiros para Doentes em Fátima, trabalho organizado com jovens, sua formação e acolhimento na “Casa do Jovem”, são apenas alguns exemplos de actividades que têm vindo a ganhar peso de ano para ano. Tão grande, que o pedido de alteração do seu nome, de “Movimento dos Cruzados de Fátima” para “Movimento da Mensagem de Fátima”, surge espontaneamente no Conselho Nacional de 1994 como “um grito para uma nova era”, aceite de imediato pela Conferência Episcopal na sua Assembleia Plenária, que seria também convidada a pronunciar-se em relação a uma nova proposta de Estatutos apresentada.



6. O novo texto de Estatutos, aprovado em 23 de Setembro de 1997, não entra em contradição com o espírito, objectivos e finalidade que estiveram na génese desta Associação de Fiéis à qual pertencemos. Pelo contrário, procura seguir as suas aspirações mais genuínas: “corresponder o melhor possível aos pedidos que Nossa Senhora fez a toda a humanidade em Fátima e aos novos desafios da evangelização, iluminado pelos ensinamentos da Igreja na qual se insere plenamente, tomando como experiência válida tudo o que de melhor fizeram os que nos antecederam”.



7. Nossa Senhora em Fátima comunicou-nos uma Mensagem simples que “contém uma verdade e um chamamento que, no seu conteúdo fundamental, são a verdade e o chamamento do próprio Evangelho” (João Paulo II, Fátima, 13 de Maio de 1982). Esta é a proposta do Movimento da Mensagem de Fátima que, afinal, não exige a ninguém nada mais do que “ser cristão no seu mundo e em Igreja”.



8. Rezemos e peçamos a Deus, por intercessão de Nossa Senhora, as maiores bênçãos dos céus para todos os membros desta obra que é dela, em especial pelos escolhidos para orientar o Movimento na entrada do novo milénio.



Eng.Henrique Franco

EXCELÊNCIAS DA LADAINHA LAURETANA


Muitos católicos costumam rezar, após o Rosário, a Ladainha de Nossa Senhora, mas poucos conhecem bem o grande valor teológico e simbólico de suas invocações.

Sábado à tarde, entrei numa igreja de uma pequena cidade do interior.
Na penumbra, algumas pessoas que tinham terminado de rezar o Rosário começaram a recitar diversas invocações em honra de Nossa Senhora, seguidas todas elas do pedido "rogai por nós".

Várias das invocações são óbvias, nem precisariam de explicações.
Por exemplo: "Santa Mãe de Deus, rogai por nós" ou "Mãe do Criador, rogai por nós".
Se Nossa Senhora é Mãe de Jesus Cristo, e Ele é o nosso Deus e Criador, é normal invocá-La desse modo.

Mas, confesso, eu passaria por um aperto se me perguntassem: por que Nossa Senhora é invocada como Torre de David ou Espelho de Justiça? Por que Torre de David e não Torre de Abraão ou de Moisés? Qual a origem dessas invocações?
Não seria espiritualmente mais proveitoso repetir uma invocação sabendo seu significado?

Se amanhã, numa reunião com algum alto dignitário, eu tivesse que dizer algo, preparar-me-ia para não repetir mecanicamente coisas ouvidas sem conhecer bem seu sentido.
Quando rezamos, em última análise dirigimo-nos a Deus, superior a qualquer dignitário (do Lat. Dignitariu s. m., aquele que exerce uma dignidade ou cargo elevado; aquele que tem alta graduação honorífica) deste mundo; portanto, devemos procurar entender razoavelmente o sentido das preces que fazemos.

É claro que Deus é misericordioso e aceita benignamente as orações feitas com devoção e desejo de agradá-Lo, mesmo se não compreendemos inteiramente o significado delas. Estamos certos de que, se a Santa Igreja colocou em nossos lábios pecadores aquelas orações, é porque elas são agradáveis a Deus.

Mas o próprio desejo de agradar a Deus deve levar-nos a procurar entender com profundidade o significado daquilo que Lhe dizemos, e com isso, também tornar mais eficaz o pedido que fazemos.

Assim sendo, vejamos a procedência de algumas invocações da Ladainha Lauretana, o que certamente resultará em aperfeiçoarmos nossa vida espiritual. Para isso ajudou-me muito o livro Na escola de Maria, de autoria de André Damino (*).

Origem das ladainhas

A palavra ladainha vem do grego e significa súplica (do Lat. supplicare, dobrar por baixo, os joelhos s. f., acto ou efeito de suplicar; oração ou pedido instante e humilde; prov., doce de ovos e farinha, coberto de açúcar.).
Mas desde o início da Igreja ela foi utilizada para indicar não quaisquer súplicas, mas as que eram rezadas em conjunto pelos fiéis que iam em procissão às diversas igrejas.
Há, naturalmente, numerosas ladainhas, dependendo do que é pedido nas diversas procissões.

Quando a casa na qual morou Nossa Senhora, na Palestina, foi transportada milagrosamente para a cidade de Loreto (Itália), em 1291, a feliz novidade espalhou-se rapidamente, dando início a numerosas peregrinações.
Com o correr do tempo, uma série de súplicas a Nossa Senhora foi sendo composta pelos peregrinos que ali iam, os quais A invocavam por seus principais títulos de glória. Posteriormente essa ladainha era cantada diariamente no Santuário, e os peregrinos que de lá voltavam a popularizaram em todo o orbe (do Lat. orbe, mundo
s. m., esfera; globo; mundo; universo; qualquer corpo celeste. Católico).
Chama-se lauretana por ter sua origem em Loreto.

Algumas invocações têm sido acrescentadas pelos Papas ao longo dos tempos, outras são agregadas para honrar a protecção de Nossa Senhora a alguma Ordem religiosa, como fazem os carmelitas, os quais rezam a ladainha lauretana carmelita, com quatro invocações a mais.
Mas o corpo central das ladainhas permanece o mesmo.

Composição da Ladainha

No início da Ladainha Lauretana, as invocações não se dirigem a Nossa Senhora, mas a Nosso Senhor e à Santíssima Trindade, pois dizemos Senhor, tende piedade de nós, Jesus Cristo, ouvi-nos, etc. Depois invocamos o Padre Eterno, o Filho e o Espírito Santo.
Por quê?

Tudo em Nossa Senhora nos conduz a seu divino Filho, e por meio dEle à Santíssima Trindade, que é nosso fim último. Isto é algo que os protestantes não entendem ou não querem entender:
Maria Santíssima é o melhor caminho para se chegar a Deus.

Após essa introdução da ladainha, seguem-se três invocações, nas quais pronunciamos o nome da Virgem (Santa Maria) e lembramos dois de seus principais privilégios: - o ser Mãe de Deus e Virgem das virgens.
A seguir, há um grupo de 13 invocações para honrarmos a Maternidade de Nossa Senhora, e outras seis para honrar sua Virgindade.
Em seguida, 13 figuras simbólicas; quatro invocações de sua misericórdia e, finalmente, 12 invocações d’Ela enquanto Rainha gloriosa e poderosa.

Em geral, é no grupo das 13 invocações com figuras simbólicas que surgem as maiores dificuldades de compreensão.
A nossa civilização fechou-se para o simbolismo, e aquilo que poderia ser até evidente em outras épocas, hoje ficou obscurecido pelo exclusivismo concedido ao espírito prático.
A própria vida contemporânea contribui para isto.
Assim, por exemplo, como explicar ou ressaltar, a pessoas que ficam fechadas em cidades feias e perigosas, a beleza de uma estrela? Igualmente, o ritmo de vida corrida e excitante de hoje não favorece a meditação ou a contemplação das maravilhas da criação.

Alguns significados

Vejamos então o significado destas 13 invocações simbólicas.

Espelho de Justiça — Justiça, aqui, entende-se em seu sentido mais amplo de santidade. Nossa Senhora é chamada assim, porque Ela é um espelho da perfeição cristã. Toda perfeição pode ser admirada n’Ela, do mesmo modo como podemos admirar uma luz reflectida na água.

Sede da Sabedoria — Nosso Senhor Jesus Cristo é a Sabedoria, pois, enquanto Deus, tudo sabe e tudo conhece. Ora, Nossa Senhora durante nove meses encerrou dentro de si seu divino Filho; Ela foi, portanto, a sede da Sabedoria. E continua a sê-lo, pois é n’Ela que encontramos infalivelmente a Nosso Senhor.

Causa de Nossa Alegria — a verdadeira alegria não é o riso. Rir muito nem sempre significa felicidade. É muito mais feliz a mãe carregando amorosamente seu filho do que um papalvo que ri à-toa. E a maior alegria que um homem pode ter é a de salvar-se e estar com Deus por toda a eternidade. Ora, antes da vinda de Nosso Senhor, o Céu estava fechado para nós. Foi o sacrifício do Calvário que nos reconciliou com o Criador e nos proporcionou a verdadeira e eterna felicidade. Como foi por meio de Nossa Senhora que o Redentor da humanidade veio à Terra, Maria Santíssima é, pois, a causa de nossa maior alegria.

Vaso Espiritual — Nada tem mais valor do que a verdadeira Fé. Na Paixão e Morte de Nosso Senhor, quando até os Apóstolos duvidaram e fugiram, foi Nossa Senhora quem recolheu e guardou, como num vaso sagrado, o tesouro da Fé inabalável.

Vaso Honorífico — Na nossa época, a honra quase não é considerada.
Pelo contrário, muitas vezes a falta de carácter e a falta de vergonha são louvadas. Mas a honra e a glória, na realidade, valem muito.
E Nossa Senhora guardou cuidadosamente na sua alma todas as graças recebidas, e manteve a honra do género humano decaído (adj., que decaiu; abatido; decadente; arruinado; empobrecido).
Se não tivesse existido Nossa Senhora, ficaria faltando na criação quem representasse a perfeição da criatura, fiel até o extremo heroísmo.

Vaso Insigne de Devoção — Devoto quer dizer dedicado a Deus.
A criatura que mais se dedicou e viveu em função de Deus foi Nossa Senhora, tendo-o realizado de forma tal, que melhor é impossível.

Rosa Mística — A rosa é a rainha das flores.
É aquela que possui de forma mais definida e esplêndida tudo quanto carateriza uma flor.
Igualmente Nossa Senhora, no campo da vida espiritual ou mística (s. f., estudo das coisas divinas ou espirituais; vida contemplativa; por ext. fanatismo doutrinário), possui de forma mais primorosa tudo aquilo que representa a perfeição.

Torre de David — Lemos na Sagrada Escritura que o rei David tomou a fortaleza de Jerusalém dos jebuseus e edificou a cidade em torno dela. "E David habitou a fortaleza, e por isso se chamou cidade de David" (Paralipômenos, 11-7). Naturalmente, o rei David fortificou a cidade, para torná-la inexpugnável (do Lat. Inexpugnabile adj. 2 gén., não expugnável; inconquistável; invencível) e dotou-a de forte guarnição.
A Igreja Católica é a nova Jerusalém, e nela temos uma torre ou fortaleza que nenhum inimigo pode invadir ou destruir, que é Nossa Senhora.
Ela constitui o ponto de maior resistência e melhor defesa. Por isso, nesta invocação honramos a Nossa Senhora reconhecendo que nunca houve, nem haverá, quem melhor proteja os fiéis e defenda a honra de Deus do que Ela.

Torre de Marfim — O marfim é um material que tem características raras na natureza.
Ele é ao mesmo tempo muito forte e muito claro.
Igualmente Nossa Senhora é muito forte espiritualmente, a maior inimiga dos inimigos de Deus, e de uma pureza alvíssima.
Assim Ela contraria a ideia falsa de que as coisas de Deus devam ser sempre muito doces, suaves e fracas, ou que a verdadeira força têm-na os impuros.

Casa de Ouro — O ouro é o mais nobre dos metais.
Por isso, sempre que desejamos dar alguma coisa que seja insuperável, a oferecemos em ouro — uma medalha de ouro numa competição, por exemplo.
Se tivéssemos que receber o próprio Deus, procuraríamos fazê-lo numa casa que não fosse superável, neste sentido uma casa de ouro.
E a Virgem Santíssima é a casa de ouro que acolheu Nosso Senhor quando veio ao mundo.

Arca da Aliança — No Antigo Testamento, na Arca da Aliança ficavam guardadas as tábuas da lei dadas por Deus a Moisés e um punhado do maná recebido milagrosamente no deserto.
Por isso ela lembrava as promessas e a protecção de Deus.
Nossa Senhora é, no Novo Testamento, a Arca da Aliança que protege o povo eleito da Igreja Católica e lembra as infinitas misericórdias (do Lat. Misericórdia s. f., compaixão pela desgraça alheia; dó; perdão; instituição de piedade e de caridade; ant., punhal que os cavaleiros traziam do lado direito e com que matavam o adversário derrubado, se este não pedia misericórdia. bandeira da -: pessoa sempre disposta a encobrir ou a perdoar as faltas de outrem; o m. q. capa da misericórdia; capa da -:vd. bandeira da misericórdia) de Deus.

Porta do Céu — Nossa Senhora é invocada desse modo, pois foi por meio d’Ela que Jesus Cristo veio à Terra, e é por Ela que nos vêm todas as graças, as quais têm como finalidade nos levar ao Céu, nossa morada eterna.
Assim, Ela favorece a nossa entrada no Céu, como a porta favorece a entrada num local.

Estrela da Manhã — Pouco antes de nascer o sol, quando a escuridão é maior e vai começar a clarear, aparece no horizonte uma estrela de maior luminosidade. Depois, quando as outras estrelas desaparecem na claridade nascente, ela ainda permanece. Assim foi Nossa Senhora, pois o seu nascimento significava que logo nasceria o Sol de Justiça, Nosso Senhor Jesus Cristo.
E quando a Fé se perdia até entre o povo eleito, Ela continuava a acreditar e esperar. Ela é o modelo da perseverança na provação e o anúncio da Luz que virá.

Temos assim, resumidamente, algumas explicações das invocações da Ladainha Lauretana.
Esperemos que a compreensão delas nos ajude a rezar com maior fervor tão meritória oração.

* André Damino, Na escola de Maria, Ed. Paulinas, 4ª edição, São Paulo, 1962.