segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA !

 

NOTA HISTÓRICA

Mais do que qualquer outro tempo do Ano Litúrgico, o Advento é tempo de Maria, pois é nele que A vemos em mais íntima relação com o Seu filho, ao Qual está unida «por vínculo estreito e indissolúvel» (LG. 53).

Se o Senhor veio ao meio dos homens, se Ele vem ainda, é por meio de Maria. N’Ela se cumpre, na verdade, o mistério do Advento.

Embora, na sua origem e no seu princípio, a Solenidade da Imaculada Conceição, que vem do século XI, não nos apareça em ligação com o Advento, contudo ela é uma verdadeira festa do Advento. Ela é a aurora que precede, anuncia e traz em si o Dia novo, que está para surgir no Natal.

Enaltecendo a Virgem Maria, esta Solenidade, em vez de nos desviar do Mistério de Cristo, leva-nos, pelo contrário, a exaltar a obra da Redenção, ao apresentar-nos Aquela que foi a primeira a beneficiar dos seus frutos, tornando-se a imagem e o modelo segundo o qual Deus quer refazer o rosto da Humanidade, desfigurado pelo pecado.

Assim como na aurora se projecta a luz do sol, de cujos raios ela tira a vida, assim em Maria Imaculada se reflecte o poder do Salvador que está para vir: a Seus méritos Ela deve, com efeito, o ter sido «remida de modo mais sublime» (LG. 53).

Festa de Advento, a Solenidade da Imaculada Conceição constitui uma bela preparação para o Natal.

Fonte: SNL



sábado, 10 de outubro de 2020

DIA MUNDIAL DAS MISSÕES 2020 !

 MENSAGEM DE SUA SANTIDADE

O PAPA FRANCISCO
PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES DE 20
20

[18 de Outubro de 2020]

 

«Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8)

 

Queridos irmãos e irmãs!

Desejo manifestar a minha gratidão a Deus pelo empenho com que, em outubro passado, foi vivido o Mês Missionário Extraordinário em toda a Igreja. Estou convencido de que isso contribuiu para estimular a conversão missionária em muitas comunidades pela senda indicada no tema «Baptizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo».

Neste ano, marcado pelas tribulações e desafios causados pela pandemia do covid-19, este caminho missionário de toda a Igreja continua à luz da palavra que encontramos na narração da vocação do profeta Isaías: «Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8). É a resposta, sempre nova, à pergunta do Senhor: «Quem enviarei?» (Ibid.). Esta chamada provém do coração de Deus, da sua misericórdia, que interpela quer a Igreja quer a humanidade na crise mundial actual. «À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas, ao mesmo tempo, importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados “vamos perecer” (cf. Mc 4, 38), assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos» (Francisco, Meditação na Praça de São Pedro, 27/III/2020). Estamos verdadeiramente assustados, desorientados e temerosos. O sofrimento e a morte fazem-nos experimentar a nossa fragilidade humana; mas, ao mesmo tempo, todos nos reconhecemos participantes dum forte desejo de vida e de libertação do mal. Neste contexto, a chamada à missão, o convite a sair de si mesmo por amor de Deus e do próximo aparece como oportunidade de partilha, serviço, intercessão. A missão que Deus confia a cada um faz passar do «eu» medroso e fechado ao «eu» resoluto e renovado pelo dom de si.

No sacrifício da cruz, onde se realiza a missão de Jesus (cf. Jo 19, 28-30), Deus revela que o seu amor é por todos e cada um (cf. Jo 19, 26-27). E pede-nos a nossa disponibilidade pessoal para ser enviados, porque Ele é Amor em perene movimento de missão, sempre em saída de Si mesmo para dar vida. Por amor dos homens, Deus Pai enviou o Filho Jesus (cf. Jo 3, 16). Jesus é o Missionário do Pai: a sua Pessoa e a sua obra são, inteiramente, obediência à vontade do Pai (cf. Jo 4, 34; 6, 38; 8, 12-30; Heb 10, 5-10). Por sua vez, Jesus – crucificado e ressuscitado por nós –, no seu movimento de amor atrai-nos com o seu próprio Espírito, que anima a Igreja, torna-nos discípulos de Cristo e envia-nos em missão ao mundo e às nações.

«A missão, a “Igreja em saída” não é um programa, um intuito concretizável por um esforço de vontade. É Cristo que faz sair a Igreja de si mesma. Na missão de anunciar o Evangelho, moves-te porque o Espírito te impele e conduz (Francisco, Sem Ele nada podemos fazer, 2019, 16-17). Deus é sempre o primeiro a amar-nos e, com este amor, vem ao nosso encontro e chama-nos. A nossa vocação pessoal provém do facto de sermos filhos e filhas de Deus na Igreja, sua família, irmãos e irmãs naquela caridade que Jesus nos testemunhou. Mas, todos têm uma dignidade humana fundada na vocação divina a ser filhos de Deus, a tornar-se, no sacramento do Baptismo e na liberdade da fé, aquilo que são desde sempre no coração de Deus.

Já o facto de ter recebido gratuitamente a vida constitui um convite implícito para entrar na dinâmica do dom de si mesmo: uma semente que, nos baptizados, ganhará forma madura como resposta de amor no matrimónio e na virgindade pelo Reino de Deus. A vida humana nasce do amor de Deus, cresce no amor e tende para o amor. Ninguém está excluído do amor de Deus e, no santo sacrifício de seu Filho Jesus na cruz, Deus venceu o pecado e a morte (cf. Rom 8, 31-39). Para Deus, o mal – incluindo o próprio pecado – torna-se um desafio para amar, e amar cada vez mais (cf. Mt 5, 38-48; Lc 23, 33-34). Por isso, no Mistério Pascal, a misericórdia divina cura a ferida primordial da humanidade e derrama-se sobre o universo inteiro. A Igreja, sacramento universal do amor de Deus pelo mundo, prolonga na história a missão de Jesus e envia-nos por toda a parte para que, através do nosso testemunho da fé e do anúncio do Evangelho, Deus continue a manifestar o seu amor e possa tocar e transformar corações, mentes, corpos, sociedades e culturas em todo o tempo e lugar.

A missão é resposta, livre e consciente, à chamada de Deus. Mas esta chamada só a podemos sentir, quando vivemos numa relação pessoal de amor com Jesus vivo na sua Igreja. Perguntemos-nos: estamos prontos a acolher a presença do Espírito Santo na nossa vida, a ouvir a chamada à missão quer no caminho do matrimónio, quer no da virgindade consagrada ou do sacerdócio ordenado e, em todo o caso, na vida comum de todos os dias? Estamos dispostos a ser enviados para qualquer lugar a fim de testemunhar a nossa fé em Deus Pai misericordioso, proclamar o Evangelho da salvação de Jesus Cristo, partilhar a vida divina do Espírito Santo edificando a Igreja? Como Maria, a Mãe de Jesus, estamos prontos a permanecer sem reservas ao serviço da vontade de Deus (cf. Lc 1, 38)? Esta disponibilidade interior é muito importante para se conseguir responder a Deus: Eis-me aqui, Senhor, envia-me (cf. Is 6, 8). E isto respondido não em abstracto, mas no hoje da Igreja e da história.

A compreensão daquilo que Deus nos está a dizer nestes tempos de pandemia torna-se um desafio também para a missão da Igreja. Desafia-nos a doença, a tribulação, o medo, o isolamento. Interpela-nos a pobreza de quem morre sozinho, de quem está abandonado a si mesmo, de quem perde o emprego e o salário, de quem não tem abrigo e comida. Obrigados à distância física e a permanecer em casa, somos convidados a redescobrir que precisamos das relações sociais e também da relação comunitária com Deus. Longe de aumentar a desconfiança e a indiferença, esta condição deveria tornar-nos mais atentos à nossa maneira de nos relacionarmos com os outros. E a oração, na qual Deus toca e move o nosso coração, abre-nos às carências de amor, dignidade e liberdade dos nossos irmãos, bem como ao cuidado por toda a criação. A impossibilidade de nos reunirmos como Igreja para celebrar a Eucaristia fez-nos partilhar a condição de muitas comunidades cristãs que não podem celebrar a Missa todos os domingos. Neste contexto, é-nos dirigida novamente a pergunta de Deus – «quem enviarei?» – e aguarda, de nós, uma resposta generosa e convicta: «Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8). Deus continua a procurar pessoas para enviar ao mundo e às nações, a fim de testemunhar o seu amor, a sua salvação do pecado e da morte, a sua libertação do mal (cf. Mt 9, 35-38; Lc 10, 1-11).

Celebrar o Dia Mundial das Missões significa também reiterar que a oração, a reflexão e a ajuda material das vossas ofertas são oportunidades para participar activamente na missão de Jesus na sua Igreja. A caridade manifestada nas colectas das celebrações litúrgicas do terceiro domingo de Outubro tem por objectivo sustentar o trabalho missionário, realizado em meu nome pelas Obras Missionárias Pontifícias, que acodem às necessidades espirituais e materiais dos povos e das Igrejas de todo o mundo para a salvação de todos.

A Santíssima Virgem Maria, Estrela da Evangelização e Consoladora dos Aflitos, discípula missionária do seu Filho Jesus, continue a amparar-nos e a interceder por nós.

Roma, em São João de Latrão, na Solenidade de Pentecostes, 31 de maio de 2020.

Francisco

 



OUTUBRO MÊS DO ROSÁRIO E DAS MISSÕES !

 


terça-feira, 18 de agosto de 2020

ASSUNÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA !

Nota Histórica

Ao terminar a Sua missão na terra, Maria, a Imaculada Mãe de Deus, «foi elevada em corpo e alma à glória do céu» (Pio XII), sendo assim a primeira criatura humana a alcançar a plenitude da salvação.
Esta glorificação de Maria é uma consequência natural da Sua Maternidade divina: Deus «não quis que conhecesse a corrupção do túmulo Aquela que gerou o Senhor da vida».
É também o fruto da íntima e profunda união existente entre Maria e a Sua missão e Cristo e a Sua obra salvadora. Plenamente unida a Cristo, como Sua Mãe e Sua serva humilde, associada, estreitamente a Ele, na humilhação e no sofrimento, não podia deixar de vir a participar do mistério de Cristo ressuscitado e glorificado, numa conformação levada até às últimas consequências. Por isso, Maria é «elevada ao Céu em corpo e alma e exaltada por Deus como Rainha, para assim Se conformar mais plenamente com Seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte» (LG. 59).
Este privilégio, concedido à Virgem Imaculada, preservada e imune de toda a mancha da culpa original, é «Sinal» de esperança e de alegria para todo o Povo de Deus, que peregrina pela terra em luta com o pecado e a morte, no meio dos perigos e dificuldades da vida. Com efeito, a Mãe de Jesus, «glorificada já em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que se há-de consumar no século futuro» (LG. 68).
O triunfo de Maria, mãe e filha da Igreja, será o triunfo da Igreja, quando, juntamente com a Humanidade, atingir a glória plena, de que Maria goza já.
A Assunção de Maria ao Céu, em corpo e alma, é a garantia de que o homem se salvará todo: também o nosso corpo ressuscitará! A Assunção de Maria é o penhor seguro de que o homem triunfará da morte!

Fonte:SNL

sábado, 2 de maio de 2020

sábado, 11 de abril de 2020

PÁSCOA 2020 (em ano de pandemia COVID19) !


Oh ! breve engano do mundo,
Em que os meus olhos confundo,
Cegos à Eterna alegria:
-Chamo noite à Madrugada!
E julgo a vida acabada
Onde a Vida principia…

Votos de Uma Santa Páscoa !



quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A QUARESMA DE 2020 !

«Em nome de Cristo, suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus» (2 Cor 5, 20)

Queridos irmãos e irmãs!
O Senhor concede-nos, também neste ano, um tempo propício para nos prepararmos para celebrar, de coração renovado, o grande Mistério da morte e ressurreição de Jesus, perne da vida cristã pessoal e comunitária. Com a mente e o coração, devemos voltar continuamente a este Mistério. Com efeito, o mesmo não cessa de crescer em nós na medida em que nos deixarmos envolver pelo seu dinamismo espiritual e aderirmos a ele com uma resposta livre e generosa.
1. O Mistério pascal, fundamento da conversão
A alegria do cristão brota da escuta e receção da Boa Nova da morte e ressurreição de Jesus: o kerygma. Este compendia o Mistério dum amor «tão real, tão verdadeiro, tão concreto, que nos proporciona uma relação cheia de diálogo sincero e fecundo» (Francisco, Exort. ap. Christus vivit, 117). Quem crê neste anúncio rejeita a mentira de que a nossa vida teria origem em nós mesmos, quando na realidade nasce do amor de Deus Pai, da sua vontade de dar vida em abundância (cf. Jo 10, 10). Se, pelo contrário, se presta ouvidos à voz persuasora do «pai da mentira» (Jo 8, 44), corre-se o risco de precipitar no abismo do absurdo, experimentando o inferno já aqui na terra, como infelizmente dão testemunho muitos acontecimentos dramáticos da experiência humana pessoal e coletiva.
Por isso, nesta Quaresma de 2020, quero estender a todos os cristãos o mesmo que escrevi aos jovens na Exortação apostólica Christus vivit: «Fixa os braços abertos de Cristo crucificado, deixa-te salvar sempre de novo. E quando te aproximares para confessar os teus pecados, crê firmemente na sua misericórdia que te liberta de toda a culpa. Contempla o seu sangue derramado pelo grande amor que te tem e deixa-te purificar por ele. Assim, poderás renascer sempre de novo» (n. 123). A Páscoa de Jesus não é um acontecimento do passado: pela força do Espírito Santo é sempre atual e permite-nos contemplar e tocar com fé a carne de Cristo em tantas passoas que sofrem.
2. Urgência da conversão
É salutar uma contemplação mais profunda do Mistério pascal, em virtude do qual nos foi concedida a misericórdia de Deus. Com efeito, a experiência da misericórdia só é possível «face a face» com o Senhor crucificado e ressuscitado, «que me amou e a Si mesmo Se entregou por mim» (Gl 2, 20). Um diálogo coração a coração, de amigo a amigo. Por isso mesmo, é tão importante a oração no tempo quaresmal. Antes de ser um dever, esta expressa a necessidade de corresponder ao amor de Deus, que sempre nos precede e sustenta. De facto, o cristão reza ciente da sua indignidade de ser amado. A oração poderá assumir formas diferentes, mas o que conta verdadeiramente aos olhos de Deus é que ela escave dentro de nós, chegando a romper a dureza do nosso coração, para o converter cada vez mais a Ele e à sua vontade.
Por isso, neste tempo favorável, deixemo-nos conduzir como Israel ao deserto (cf. Os 2, 16), para podermos finalmente ouvir a voz do nosso Esposo, deixando-a ressoar em nós com maior profundidade e disponibilidade. Quanto mais nos deixarmos envolver pela sua Palavra, tanto mais conseguiremos experimentar a sua misericórdia gratuita por nós. Portanto não deixemos passar em vão este tempo de graça, na presunçosa ilusão de sermos nós o dono dos tempos e modos da nossa conversão a Ele.
3. A vontade apaixonada que Deus tem de dialogar com os seus filhos
O facto de o Senhor nos proporcionar uma vez mais um tempo favorável para a nossa conversão, não devemos jamais dá-lo como garantido. Esta nova oportunidade deveria suscitar em nós um sentido de gratidão e sacudir-nos do nosso torpor. Não obstante a presença do mal, por vezes até dramática, tanto na nossa existência como na vida da Igreja e do mundo, este período que nos é oferecido para uma mudança de rumo manifesta a vontade tenaz de Deus de não interromper o diálogo de salvação connosco. Em Jesus crucificado, que Deus «fez pecado por nós» (2 Cor 5, 21), esta vontade chegou ao ponto de fazer recair sobre o seu Filho todos os nossos pecados, como se houvesse – segundo o Papa Bento XVI – um «virar-se de Deus contra Si próprio» (Enc. Deus caritas est, 12). De facto, Deus ama também os seus inimigos (cf. Mt 5, 43-48).
O diálogo que Deus quer estabelecer com cada homem, por meio do Mistério pascal do seu Filho, não é como o diálogo atribuído aos habitantes de Atenas, que «não passavam o tempo noutra coisa senão a dizer ou a escutar as últimas novidades» (At 17, 21). Este tipo de conversa, ditado por uma curiosidade vazia e superficial, carateriza a mundanidade de todos os tempos e, hoje em dia, pode insinuar-se também num uso pervertido dos meios de comunicação.
4. Uma riqueza que deve ser partilhada, e não acumulada só para si mesmo
Colocar o Mistério pascal no centro da vida significa sentir compaixão pelas chagas de Cristo crucificado presentes nas inúmeras vítimas inocentes das guerras, das prepotências contra a vida desde a do nascituro até à do idoso, das variadas formas de violência, dos desastres ambientais, da iníqua distribuição dos bens da terra, do tráfico de seres humanos em todas as suas formas e da sede desenfreada de lucro, que é uma forma de idolatria.
Também hoje é importante chamar os homens e mulheres de boa vontade à partilha dos seus bens com os mais necessitados através da esmola, como forma de participação pessoal na edificação dum mundo mais justo. A partilha, na caridade, torna o homem mais humano; com a acumulação, corre o risco de embrutecer, fechado no seu egoísmo. Podemos e devemos ir mais além, considerando as dimensões estruturais da economia. Por este motivo, na Quaresma de 2020 – mais concretamente, de 26 a 28 de março –, convoquei para Assis jovens economistas, empreendedores e transformativos, com o objetivo de contribuir para delinear uma economia mais justa e inclusiva do que a atual. Como várias vezes se referiu no magistério da Igreja, a política é uma forma eminente de caridade (cf. Pio XI, Discurso à FUCI, 18/XII/1927). E sê-lo-á igualmente ocupar-se da economia com o mesmo espírito evangélico, que é o espírito das Bem-aventuranças.
Invoco a intercessão de Maria Santíssima sobre a próxima Quaresma, para que acolhamos o apelo a deixar-nos reconciliar com Deus, fixemos o olhar do coração no Mistério pascal e nos convertamos a um diálogo aberto e sincero com Deus. Assim, poderemos tornar-nos aquilo que Cristo diz dos seus discípulos: sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5, 13.14).

Roma, em São João de Latrão, 7 de Outubro de 2019,
Memória de Nossa Senhora do Rosário.

Franciscus


quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

1 DE JANEIRO DE 2020, SANTA MARIA MÃE DE DEUS E DIA MUNDIAL DA PAZ!


MENSAGEM DO SANTO PADRE
FRANCISCO
PARA A CELEBRAÇÃO DO
DIA MUNDIAL DA PAZ
1º DE JANEIRO DE 2020

«A PAZ COMO CAMINHO DE ESPERANÇA:
DIÁLOGO, RECONCILIAÇÃO E CONVERSÃO ECOLÓGICA»

1. A paz, caminho de esperança face aos obstáculos e provações
A paz é um bem precioso, objecto da nossa esperança; por ela aspira toda a humanidade. Depor esperança na paz é um comportamento humano que alberga uma tal tensão existencial, que o momento presente, às vezes até custoso, «pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros dessa meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho»[1]. Assim, a esperança é a virtude que nos coloca a caminho, dá asas para continuar, mesmo quando os obstáculos parecem intransponíveis.
A nossa comunidade humana traz, na memória e na carne, os sinais das guerras e conflitos que têm vindo a suceder-se, com crescente capacidade destruidora, afectando especialmente os mais pobres e frágeis. Há nações inteiras que não conseguem libertar-se das cadeias de exploração e corrupção que alimentam ódios e violências. A muitos homens e mulheres, crianças e idosos, ainda hoje se nega a dignidade, a integridade física, a liberdade – incluindo a liberdade religiosa –, a solidariedade comunitária, a esperança no futuro. Inúmeras vítimas inocentes carregam sobre si o tormento da humilhação e da exclusão, do luto e da injustiça, se não mesmo os traumas resultantes da opressão sistemática contra o seu povo e os seus entes queridos.
As terríveis provações dos conflitos civis e dos conflitos internacionais, agravadas muitas vezes por violências desalmadas, marcam prolongadamente o corpo e a alma da humanidade. Na realidade, toda a guerra se revela um fratricídio que destrói o próprio projeto de fraternidade, inscrito na vocação da família humana.
Sabemos que, muitas vezes, a guerra começa pelo facto de não se suportar a diversidade do outro, que fomenta o desejo de posse e a vontade de domínio. Nasce, no coração do homem, a partir do egoísmo e do orgulho, do ódio que induz a destruir, a dar uma imagem negativa do outro, a excluí-lo e cancelá-lo. A guerra nutre-se com a perversão das relações, com as ambições hegemónicas, os abusos de poder, com o medo do outro e a diferença vista como obstáculo; e simultaneamente alimenta tudo isso.
Como fiz notar durante a recente viagem ao Japão, é paradoxal que «o nosso mundo viva a dicotomia perversa de querer defender e garantir a estabilidade e a paz com base numa falsa segurança sustentada por uma mentalidade de medo e desconfiança, que acaba por envenenar as relações entre os povos e impedir a possibilidade de qualquer diálogo. A paz e a estabilidade internacional são incompatíveis com qualquer tentativa de as construir sobre o medo de mútua destruição ou sobre uma ameaça de aniquilação total. São possíveis só a partir duma ética global de solidariedade e cooperação ao serviço dum futuro modelado pela interdependência e a corresponsabilidade na família humana inteira de hoje e de amanhã»[2].
Toda a situação de ameaça alimenta a desconfiança e a retirada para dentro da própria condição. Desconfiança e medo aumentam a fragilidade das relações e o risco de violência, num círculo vicioso que nunca poderá levar a uma relação de paz. Neste sentido, a própria dissuasão nuclear só pode criar uma segurança ilusória.
Por isso, não podemos pretender manter a estabilidade no mundo através do medo da aniquilação, num equilíbrio muito instável, pendente sobre o abismo nuclear e fechado dentro dos muros da indiferença, onde se tomam decisões socioeconómicas que abrem a estrada para os dramas do descarte do homem e da criação, em vez de nos guardarmos uns aos outros[3]. Então como construir um caminho de paz e mútuo reconhecimento? Como romper a lógica morbosa da ameaça e do medo? Como quebrar a dinâmica de desconfiança actualmente prevalecente?
Devemos procurar uma fraternidade real, baseada na origem comum de Deus e vivida no diálogo e na confiança mútua. O desejo de paz está profundamente inscrito no coração do homem e não devemos resignar-nos com nada de menos.
2. A paz, caminho de escuta baseado na memória, solidariedade e fraternidade
Os sobreviventes aos bombardeamentos atómicos de Hiroxima e Nagasáqui – denominados os hibakusha – contam-se entre aqueles que, hoje, mantêm viva a chama da consciência colectiva, testemunhando às sucessivas gerações o horror daquilo que aconteceu em Agosto de 1945 e os sofrimentos indescritíveis que se seguiram até aos dias de hoje. Assim, o seu testemunho aviva e preserva a memória das vítimas, para que a consciência humana se torne cada vez mais forte contra toda a vontade de domínio e destruição. «Não podemos permitir que as actuais e as novas gerações percam a memória do que aconteceu, aquela memória que é garantia e estímulo para construir um futuro mais justo e fraterno»[4].
Como eles, há muitos, em todas as partes do mundo, que oferecem às gerações futuras o serviço imprescindível da memória, que deve ser preservada não apenas para evitar que se voltem a cometer os mesmos erros ou se reproponham os esquemas ilusórios do passado, mas também para que a memória, fruto da experiência, constitua a raiz e sugira a vereda para as opções de paz presentes e futuras.
Mais ainda, a memória é o horizonte da esperança: muitas vezes, na escuridão das guerras e dos conflitos, a lembrança mesmo dum pequeno gesto de solidariedade recebida pode inspirar opções corajosas e até heróicas, pode colocar em movimento novas energias e reacender nova esperança nos indivíduos e nas comunidades.
Abrir e traçar um caminho de paz é um desafio muito complexo, pois os interesses em jogo, nas relações entre pessoas, comunidades e nações, são múltiplos e contraditórios. É preciso, antes de mais nada, fazer apelo à consciência moral e à vontade pessoal e política. Com efeito, a paz alcança-se no mais fundo do coração humano, e a vontade política deve ser incessantemente revigorada para abrir novos processos que reconciliem e unam pessoas e comunidades.
O mundo não precisa de palavras vazias, mas de testemunhas convictas, artesãos da paz abertos ao diálogo sem exclusões nem manipulações. De facto, só se pode chegar verdadeiramente à paz quando houver um convicto diálogo de homens e mulheres que buscam a verdade mais além das ideologias e das diferentes opiniões. A paz é uma construção que «deve estar constantemente a ser edificada»[5], um caminho que percorremos juntos procurando sempre o bem comum e comprometendo-nos a manter a palavra dada e a respeitar o direito. Na escuta mútua, podem crescer também o conhecimento e a estima do outro, até ao ponto de reconhecer no inimigo o rosto dum irmão.
Por conseguinte, o processo de paz é um empenho que se prolonga no tempo. É um trabalho paciente de busca da verdade e da justiça, que honra a memória das vítimas e abre, passo a passo, para uma esperança comum, mais forte que a vingança. Num Estado de direito, a democracia pode ser um paradigma significativo deste processo, se estiver baseada na justiça e no compromisso de tutelar os direitos de cada um, especialmente se vulnerável ou marginalizado, na busca contínua da verdade[6]. Trata-se duma construção social em contínua elaboração, para a qual cada um presta responsavelmente a própria contribuição, a todos os níveis da comunidade local, nacional e mundial.
Como assinalava o Papa São Paulo VI, «a dupla aspiração – à igualdade e à participação – procura promover um tipo de sociedade democrática. (...). Isto, de per si, já diz bem qual a importância de uma educação para a vida em sociedade, em que, para além da informação sobre os direitos de cada um, seja recordado também o seu necessário correlativo: o reconhecimento dos deveres de cada um em relação aos outros. O sentido e a prática do dever são, por sua vez, condicionados pelo domínio de si mesmo, pela aceitação das responsabilidades e das limitações impostas ao exercício da liberdade do indivíduo ou do grupo»[7].
Pelo contrário, a fratura entre os membros duma sociedade, o aumento das desigualdades sociais e a recusa de empregar os meios para um desenvolvimento humano integral colocam em perigo a prossecução do bem comum. Inversamente, o trabalho paciente, baseado na força da palavra e da verdade, pode despertar nas pessoas a capacidade de compaixão e solidariedade criativa.
Na nossa experiência cristã, fazemos constantemente memória de Cristo, que deu a sua vida pela nossa reconciliação (cf. Rm 5, 6-11). A Igreja participa plenamente na busca duma ordem justa, continuando a servir o bem comum e a alimentar a esperança da paz, através da transmissão dos valores cristãos, do ensinamento moral e das obras sociais e educacionais.
3. A paz, caminho de reconciliação na comunhão fraterna
A Bíblia, particularmente através da palavra dos profetas, chama as consciências e os povos à aliança de Deus com a humanidade. Trata-se de abandonar o desejo de dominar os outros e aprender a olhar-se mutuamente como pessoas, como filhos de Deus, como irmãos. O outro nunca há de ser circunscrito àquilo que pôde ter dito ou feito, mas deve ser considerado pela promessa que traz em si mesmo. Somente escolhendo a senda do respeito é que será possível romper a espiral da vingança e empreender o caminho da esperança.
Guia-nos a passagem do Evangelho que reproduz o seguinte diálogo entre Pedro e Jesus: «“Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?” Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”» (Mt 18, 21-22). Este caminho de reconciliação convida-nos a encontrar no mais fundo do nosso coração a força do perdão e a capacidade de nos reconhecermos como irmãos e irmãs. Aprender a viver no perdão aumenta a nossa capacidade de nos tornarmos mulheres e homens de paz.
O que é verdade em relação à paz na esfera social, é verdadeiro também no campo político e económico, pois a questão da paz permeia todas as dimensões da vida comunitária: nunca haverá paz verdadeira, se não formos capazes de construir um sistema económico mais justo. Como escreveu Bento XVI, «a vitória sobre o subdesenvolvimento exige que se atue não só sobre a melhoria das transacções fundadas sobre o intercâmbio, nem apenas sobre as transferências das estruturas assistenciais de natureza pública, mas sobretudo sobre a progressiva abertura, em contexto mundial, para formas de actividade económica caracterizadas por quotas de gratuitidade e de comunhão»[8].
4. A paz, caminho de conversão ecológica
«Se às vezes uma má compreensão dos nossos princípios nos levou a justificar o abuso da natureza, ou o domínio despótico do ser humano sobre a criação, ou as guerras, a injustiça e a violência, nós, crentes, podemos reconhecer que então fomos infiéis ao tesouro de sabedoria que devíamos guardar»[9].
Vendo as consequências da nossa hostilidade contra os outros, da falta de respeito pela casa comum e da exploração abusiva dos recursos naturais – considerados como instrumentos úteis apenas para o lucro de hoje, sem respeito pelas comunidades locais, pelo bem comum e pela natureza –, precisamos duma conversão ecológica.
O Sínodo recente sobre a Amazónia impele-nos a dirigir, de forma renovada, o apelo em prol duma relação pacífica entre as comunidades e a terra, entre o presente e a memória, entre as experiências e as esperanças.
Este caminho de reconciliação inclui também escuta e contemplação do mundo que nos foi dado por Deus, para fazermos dele a nossa casa comum. De facto, os recursos naturais, as numerosas formas de vida e a própria Terra foram-nos confiados para ser «cultivados e guardados» (cf. Gn 2, 15) também para as gerações futuras, com a participação responsável e diligente de cada um. Além disso, temos necessidade duma mudança nas convicções e na perspectiva, que nos abra mais ao encontro com o outro e à recepção do dom da criação, que reflecte a beleza e a sabedoria do seu Artífice.
De modo particular brotam daqui motivações profundas e um novo modo de habitar na casa comum, de convivermos uns e outros com as próprias diversidades, de celebrar e respeitar a vida recebida e partilhada, de nos preocuparmos com condições e modelos de sociedade que favoreçam o desabrochar e a permanência da vida no futuro, de desenvolver o bem comum de toda a família humana.
Por conseguinte a conversão ecológica, a que apelamos, leva-nos a uma nova perspectiva sobre a vida, considerando a generosidade do Criador que nos deu a Terra e nos chama à jubilosa sobriedade da partilha. Esta conversão deve ser entendida de maneira integral, como uma transformação das relações que mantemos com as nossas irmãs e irmãos, com os outros seres vivos, com a criação na sua riquíssima variedade, com o Criador que é origem de toda a vida. Para o cristão, uma tal conversão exige «deixar emergir, nas relações com o mundo que o rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus»[10].
5. Obtém-se tanto quanto se espera[11]
O caminho da reconciliação requer paciência e confiança. Não se obtém a paz, se não a esperamos.
Trata-se, antes de mais nada, de acreditar na possibilidade da paz, de crer que o outro tem a mesma necessidade de paz que nós. Nisto, pode-nos inspirar o amor de Deus por cada um de nós, amor libertador, ilimitado, gratuito, incansável.
O medo é, frequentemente, fonte de conflito. Por isso, é importante ir além dos nossos temores humanos, reconhecendo-nos filhos necessitados diante d’Aquele que nos ama e espera por nós, como o Pai do filho pródigo (cf. Lc 15, 11-24). A cultura do encontro entre irmãos e irmãs rompe com a cultura da ameaça. Torna cada encontro uma possibilidade e um dom do amor generoso de Deus. Faz-nos de guia para ultrapassarmos os limites dos nossos horizontes estreitos, procurando sempre viver a fraternidade universal, como filhos do único Pai celeste.
Para os discípulos de Cristo, este caminho é apoiado também pelo sacramento da Reconciliação, concedido pelo Senhor para a remissão dos pecados dos baptizados. Este sacramento da Igreja, que renova as pessoas e as comunidades, convida a manter o olhar fixo em Jesus, que reconciliou «todas as coisas, pacificando pelo sangue da sua cruz, tanto as que estão na terra como as que estão no céu» (Col 1, 20); e pede para depor toda a violência nos pensamentos, nas palavras e nas obras quer para com o próximo quer para com a criação.
A graça de Deus Pai oferece-se como amor sem condições. Recebido o seu perdão, em Cristo, podemos colocar-nos a caminho para ir oferecê-lo aos homens e mulheres do nosso tempo. Dia após dia, o Espírito Santo sugere-nos atitudes e palavras para nos tornarmos artesãos de justiça e de paz.
Que o Deus da paz nos abençoe e venha em nossa ajuda.
Que Maria, Mãe do Príncipe da paz e Mãe de todos os povos da terra, nos acompanhe e apoie, passo a passo, no caminho da reconciliação.
E que toda a pessoa que vem a este mundo possa conhecer uma existência de paz e desenvolver plenamente a promessa de amor e vida que traz em si.
Vaticano, 8 de Dezembro de 2019.
Franciscus